Estamos morando em um ônibus. Passaremos nossos últimos dias na Ilha Norte da Nova Zelândia cuidando de um ônibus transformado em casa em Bethells Beach, na costa oeste de Auckland.
Este é mais um dos acordos de hospedagem que conseguimos através de house sitting – um “bus sitting”, portanto.
Diferentemente de todas as outras casas que nos hospedamos na Nova Zelândia, e mesmo aquelas que apenas observamos na estrada, o ônibus e toda a vizinhança em Bethells seguem um padrão mais humilde de habitação. É de se espantar no entanto, ao ver em nossa volta que morar em um ônibus não é exclusividade nossa por aqui, já que cada terreno parece ter um veículo estacionado com alguma pessoa levando a vida dentro dele.
Bethells Beach
A praia de Bethells é também o primeiro local do país em que não vemos a presença forte do governo fornecendo infra-estrutura básica, e olha que estamos ainda dentro de Auckland, a maior cidade do país. Os únicos elementos fornecidos são o asfalto na estrada que chega até aqui, o lixo que é recolhido às segundas-feiras e o posto de salva-vidas na praia, que ainda assim não funciona todos os dias.
Não há comércio também ou qualquer atividade privada, exceto por um bar na praia que só abre às sextas-feiras a noite e durante os fins de semana, mas isto apenas durante os meses mais quentes do ano (do fim de Outubro até Março/Abril). O supermercado mais próximo fica a quarenta minutos de distância.
Por aqui não há redes oficiais de fornecimento de energia, água encanada ou esgoto. Não há cobertura de telefone celular também, e o único contato por internet que temos para poder escrever este texto é um cabo que vem do roteador na casa do vizinho.
A região toda sobrevive criando e mantendo sua própria infra-estrutura. Cada casa tem seus próprios painéis de energia solar – até nosso ônibus tem um – um sistema de captação de água de chuva e são ligadas a uma rede comunitária de fossa e filtro.
Sem qualquer surpresa, a comunidade é formada essencialmente por artistas, antigos hippies, surfistas e todo tipo de pessoa que procure este estilo de vida. É um local onde não há horários ou dias da semana. Não podíamos rejeitar uma oferta dessas.
Um parênteses: quando nos casamos, ainda em 2013, escolhemos como fundo da cerimônia a trilha do Eddie Vedder para Into the Wild – Na Natureza Selvagem (e quem não tenha assistido ainda, corra, pois é obrigatório a quem curte viajar). Naquele momento não sabíamos que viríamos para a Nova Zelândia, muito menos neste tipo de viagem que estamos fazendo, ou que um dia, como Alexander Supertramp, moraríamos em um ônibus. Mas no momento em que vimos a oferta deste house sitting, tivemos a certeza que era o anúncio perfeito para a gente. Fecha parênteses.
A vida em um ônibus
Nosso ônibus é um espaço de 18m², mas com sala, cozinha, quarto e chuveiro em ambientes separados, sendo apenas o banheiro do lado de fora. Ainda temos direito a usar alguns itens do terreno da casa onde estamos estacionados, como o cabo de internet, lavanderia e um freezer/geladeira (temos apenas um frigobar no ônibus).
Não é muito espaçoso, mas há quem viva com menos e pagando muito mais caro em Copacabana, por exemplo. E além disso nosso ônibus nos fornece uma experiência de vida única, que dificilmente encontraríamos caso a praia daqui fosse tão badalada quanto a brasileira e um pôr-do-sol exclusivo, bem nos nosso quintal.
Quanta coisa boa num post só! <3
Que bom que gostou, Katarina! 😀
Bom dia!
Admiro muito o modo como levam a vida! Para mim, é um sonho a ser alcançado.
Parabéns pela liberdade e o desapego que praticam. Pois acredito que a vida é muito curta para ficar correndo atrás de bens materiais, desperdiçamos tempo, em vez de buscar o crescimento espiritual. Fico feliz por ter exemplos como vocês, provando que é possível se desgarrar dos moldes dessa sociedade capitalista e imediatista.
Abraço!!!
Obrigado Gilberto. Sempre bom ter retorno e ver que podemos inspirar outros a fazer o mesmo.
Um abraço,
Carlos