Vir para a Nova Zelândia é maravilhoso, mas passar um ano inteiro viajando por um par de ilhas no meio do Oceano Pacífico tem suas conseqüências. A mais estranha delas talvez seja a sensação permanente no ar de estarmos isolados no mundo, de todo o resto do planeta. E não só geograficamente falando, mas isolados no tempo também.
O isolamento geográfico
Chegamos ao país com a visão tradicional de brasileiros, que a Nova Zelândia era “do lado” da Austrália e “pertinho” da Ásia. Mas mal sabíamos o quanto este pensamento é distorcido pelo mapa-mundi que conhecemos. O Oceano Pacífico é enorme, mas por ser representado sempre dividido em dois passa a sensação errada de sua verdadeira dimensão.
Para se ter uma idéia, um vôo sem escalas de Auckland para Sydney, a cidade australiana mais próxima, dura três horas e meia, a mesma de um vôo do Rio de Janeiro até Belém. Alguém considera que o Pará seja tão próximo assim do Sudeste?
Querem outro exemplo? Um vôo da Nova Zelândia até a Tailândia, no Sudeste Asiático, ou até Tóquio, capital do Japão, dura entre 11 e 12 horas. É mais rápido, portanto, ir do Rio de Janeiro até Nova York (10h) ou até Paris (11h) que sair da Nova Zelândia para a Ásia.
O isolamento no tempo
Por mais que se diga que hoje no mundo não há distância pra nada, o eixo de produção de conteúdo e notícias no mundo fica entre os Estados Unidos e a Europa e funciona regulado de acordo com os horários comerciais de lá. Como o Brasil está bem no meio desse eixo, normalmente não sentimos grande diferença, mas a enorme quantidade de fusos que separa a Nova Zelândia destes locais gera um isolamento que não há globalização que desfaça e que só é percebido por quem vive aqui.
O povo neozelandês vive suas rotinas sob a faixa de fuso-horário +12, a última antes da linha internacional de mudança de data, e como se não fosse o bastante, o horário de verão no país dura mais de seis meses, indo do último fim de semana de setembro até o primeiro domingo de abril, o que deixa o país, na maior parte do ano, a +13 horas de Londres, +16 do Brasil ou +20 horas da costa oeste americana.
Eventos e fatos ao vivo ocorrem sempre quando estamos dormindo. E ao longo do dia são horas de reprises e repercussão do que ocorrera nos dias anteriores no restante do mundo.
Ironicamente, apesar de estarmos à frente de todos, somos o marido traído do planeta.
Parabéns pelo site. Essa observação de distância geográfica e temporal foi bem pertinente e quase não paramos para pensar como isso nos afeta.