Maldita (ou bendita!) a hora que uma amiga australiana postou no Facebook uma foto de um lago cor de rosa na Austrália. Como diz o Carlos, eu monto meus roteiros de viagem a partir de fotos que vejo, sem me importar muito com o processo para chegar a algum lugar (isso eu deixo pro Carlos planejar) e não sossego enquanto não vou atrás daquela imagem. As consequências disso nem sempre são boas, como vocês podem imaginar e eu como fotógrafa, deveria ter em mente que fotos são manipuláveis!
O tal lago cor de rosa da Western Austrália
Ok, foto postada, foto vista, já era tarde demais para mim. Lá fui eu pesquisar sobre o tal lago cor de rosa. Seu nome é Lago Hillier e fica em um arquipélago perdido no Oceano Antártico. A cidade mais próxima, Esperance, fica a 8 horas, de carro, de Perth.
Ver o Lago Hillier, como naquela foto, é possível apenas para alguns sortudos (e muito ricos) que consigam alugar um helicóptero privado que sobrevoe a ilha. E mesmo os milionários só podem observar de longe o lago rosa: o local é uma reserva ambiental e é proibido pisar lá.
Lá ia meu sonho de ver essa maravilha de perto, mas a pesquisa sobre o Lago trouxe alguns frutos: descobrimos que em Western Australia existem outros cinco lagos com a mesma coloração, e um deles fica na mesma cidade de Esperance, sendo conhecido como, adivinhem? Pink Lake – ou, Lago Rosa.
PS: Vocês sabem qual o lago rosa estamos falando, não? Veja no Google Imagens os resultados (as fotos em que pessoas aparecem na água são de outros locais do mundo que também têm um lago rosa)
Incluir ou não Esperance no roteiro?
Esperance é uma cidade extremamente isolada, mesmo dentro de um Estado como a Western Australia, que já é cercado de deserto por todos os lados. No meio do Golden Outback da Austrália, Esperance é a última cidade de um tamanho considerável antes da imensa planície de Nullabor, o deserto de fato, estilo Mad Max.
Logo, ir ou não ir até Esperance?
Ao ler guias e folders da cidade, nada sobre o tal Lago Rosa. Nem uma palavra. Péssimo sinal. Não é possível que um lago rosa e tão diferente do usual não figure como atração imperdível em uma cidade no fim do mundo.
Pelo contrário, a divulgação do turismo em Esperance é feita em torno de outra foto igualmente incrível que, novamente, fez meu lado fotógrafa falar mais alto: um canguru deitado nas areias brancas de uma praia paradisíaca!
Ah, mas isso só pode ser montagem, coisa de publicitário pra fazer a gente dirigir até lá! Carlos, mais cético do que eu, não acreditava que poderíamos ver cangurus soltos numa praia e que seríamos decepcionados duas vezes: sem lago rosa e sem cangurus.
Esperance saiu do nosso roteiro. Era longe demais para sermos enganados.
Colocando Esperance de novo no roteiro pela Austrália
Isso mesmo, voltamos atrás. Na hora de montar o roteiro de fato pelo Sudoeste da Austrália e por no papel o trajeto, tínhamos um dia sobrando e precisaríamos preencher com algum outro destino.
Voltamos a paquerar Esperance.
Eu, na verdade, nunca tinha perdido as esperanças e fiquei muito feliz quando conseguimos colocar Esperance de volta ao roteiro. Afinal, ainda que não tivesse lago rosa nem cangurus na praia, a cidade ao menos era, seguramente, repleta de águas de uma tonalidade de causar certa inveja ao Caribe.
O lago rosa que não é mais
Reservamos apenas um dia em Esperance, devido à desconfiança de que as coisas poderiam não ser da forma que imaginávamos.
Com tempo limitado, resolvemos procurar logo o Pink Lake – o suposto Lago Rosa – para acabarmos com a curiosidade. E ao chegar lá,… ele era branco. Branco. Decepcionante.
Decepcionante nível “não tiramos uma foto sequer” de decepção.
Talvez um dia ele tenha sido um lago rosa (afinal, por que dariam a ele esse nome?), mas, por algum motivo, tinha deixado de ser, e isso justificava seu sumiço da publicidade oficial de Esperance.
O lago rosa que ainda é
Chegar até o Lago Rosa que agora é Branco não é fácil. Como ninguém (a não ser dois brasileiros doidos atrás de uma foto) visita a cidade por conta disso, tivemos que olhar no Google Maps para acharmos o caminho de volta.
Eis que, ao lado do Pink Lake havia outro chamado Lago Warden e Carlos percebeu que na foto de satélite este lago tinha uma coloração incomum e muito parecida com a que o Lago Hillier tem na mesma foto aérea.
Lá fomos nós em busca de mais um lago rosa.
Se é difícil acessar o Pink Lake, encontrar uma entrada para o Lago Warden foi ainda mais complicado, pois todas as ruas que dão acesso ao lago são cercadas por fazendas.
Ao tentar circundar o local, percebemos também que existe uma usina de extração de minérios localizada em suas margens e logo começamos a pensar que esta seja a razão que tenha feito o Pink Lake, ali do lado, deixar de ser um lago rosa.
Depois de algum tempo, entrando e saindo de ruas, achamos uma brecha no meio da mata, na estrada saindo da cidade. Algo imperceptível caso não esteja atento.
Entramos, estacionamos no chão de terra e fomos andando até a margem do lago.
E enfim achamos nosso lago rosa! E era muito rosa! Mas é preciso observar a hora do dia para ver a cor melhor. É bom ir com o sol de frente para o lago, pois caso ele esteja de contra, a tonalidade ficará um pouco apagada devido ao brilho do sol.
Primeiro acerto de nossa visita a Esperance! Mesmo não sendo o tal lago rosa que é conhecido mundo afora, conseguimos o que queríamos, mesmo sendo um não divulgado.
Faltava ver se existiam mesmo os cangurus tomando sol na praia.
Lucky Bay, a praia com a areia mais branca da Austrália
A tal praia com cangurus, chamada Lucky Bay, fica dentro de um parque nacional, o Cape Le Grand National Park, e depois de uns 10 minutos dentro do parque, chegamos à famosa Lucky Bay. E nossa, que praia maravilhosa!
Sua baía fica cercada por dois morros e suas areias são tão brancas que parecem giz. Os grãos são tão finos que ao caminhar é possível ouvir um barulho curioso. E suas águas, banhadas pelo Oceano Antártico, ah, azuis e perfeitas. Com certeza deve ser um lugar extraordinário no verão.
A praia estava deserta, o que nos fazia pensar que seria um lugar perfeito para construir uma casa e morar para sempre. Andamos até um canto da praia e já nos direcionamos até a outra ponta quando… vimos cangurus! Três cangurus, dois adultos e um filhote, uma família! Não existem palavras para descrever a sensação. Nós ali, naquela praia paradisíaca, com três cangurus selvagens andando livremente. Foi emocionante.
Percebemos que eles se alimentavam de uma grama bem ralinha que crescia na areia. Caso queira socializar com eles, basta pegar um pouco dessas graminhas, se abaixar na altura deles e deixar que eles venham. Mesmo sendo selvagens, são muito carinhosos e curiosos.
Depois de bons momentos com eles, resolvemos ir embora para nossa acomodação com sensação de missão cumprida.
Desconfiamos tanto e no final, Esperance nos proporcionou tudo aquilo que achávamos impossível: o lago rosa que tanto queríamos ver e os cangurus selvagens habitando uma de suas praias. Decidir ir a Esperance não nos decepcionou nem um pouco!
Incrível, não? Já aconteceu algo parecido com você? Planejou uma viagem sem muita expectativa e foi surpreendido? Conte pra gente nos comentários.
OLá, Larissa. Adorei o post.
Adoro pesquisar e ver imagens sobre as belíssimas praias da Austrália.
Porém, confesso que ouvi muitas pessoas comentando sobre os frequentes ataques de tubarões nas praias,
Você por acaso ouviu falar disso quando esteve por lá?
Abraços.
Oi Joslliane, não ouvimos falar de tubarões não, pelo menos não nos lugares que fomos…
Larissa, tudo bem?
Adorei o relato, também costumo viajar procurando o local “da foto” não importando quanto tempo leve pra chegar hahaha. Agradeço pois estou indo pra Australia e, devido a sua experiencia, desisti de procurar esse tal pink lake, muito complicado!!
Jogando “pink lake” no google, acabei achando Las Coloradas no Mexico, já ouviu falar? 🙂
Nunca ouvi falar desse Las Coloradas, achei interessante!
Existem outros pink lakes na Austrália, dá uma googlada só 🙂
Lindo relato. Apenas a marca d’água da vida Cigana que achei decepcionante, desvalorizando as fotografias pois cada hora que estava admirando me deparava com não apenas uma marca discreta mas algo que mostrava o tamanho do ego humano, e o medo de ser roubado, ou não ser identificado, onde tudo que importa era dizer sobre o vocês e não um relato bonito do que se viu por lá como uma amiga chata que conta sobre a viagem que fez a Nova Iorque mostrando as melhores fotos.
Não sei se você acompanha nosso blog, Clarisse, mas mudamos a marca d’água para algo menor. Essas fotos são antigas. E sim, vamos continuar colocando marca d’água em nossas fotos, pois se com elas as pessoas não respeitam nosso trabalho, imagina sem. Não é ego, é fruto de anos de trabalho e aprendizado para usarem nossas fotos indevidamente. Não acredito que a marca d’água atrapalhe na admiração de uma foto, e muito menos na qualidade do texto e sobre nossa experiência e dicas, essa é a primeira vez que recebemos esse tipo de reclamação em 4 anos de blog. Obrigada por seu comentário!
Olá, muito legal o seu post! Eu sou dessas que visito um
Lugar quando me
Encanto com a foto! O mais desafiante pra mim
Foi visitar as montanhas coloridas na China. Pesquisei um bom tempo sobre o Pink Lake e infelizmente desisti, entendi que não conseguiria ver. Um abraço
adorei o relato! também sou dessas de ver uma foto e sair feito louca procurando o local…
Sim, que bom que tem alguém que entende o meu lado hahaha