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Conjunto Arquitetônico da Pampulha, a maior atração de Belo Horizonte

Fachada de fundos da igreja de são francisco de assis, a obra mais conhecida do conjunto arquitetônico da pampulha, projetado por Oscar Niemeyer, em Belo Horizonte.

Em Julho de 2016, em conferência realizada em Istambul, um comitê da UNESCO adicionou novos locais à lista de Patrimônios Mundiais reconhecidos pela organização. Entre eles estava o Conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, a obra que deu voz à capacidade turística da cidade e impulsionou as carreiras de seus dois principais idealizadores: Oscar Niemeyer e Juscelino Kubitschek.

A maior atração turística de Belo Horizonte

O lindo painel de Cândido Portinari no interior da Igreja da Pampulha, parte do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte. Uma mulher de vermelho se destaca em frente ao altar.

Aos turistas que desembarcam em Belo Horizonte, o complexo da Pampulha é hoje a maior atração entre os pontos turísticos de BH.

Mas são poucos os que visitam a região que conseguem visualizá-lo da forma que foi concebido: como um conjunto que envolve arquitetura, arte e paisagem.

A forma de fazer turismo na cidade é focada nas edificações como se fossem independentes, o que, para mim, tira boa parte do charme da ideia original.

A Belo Horizonte do futuro nos anos 30

Os jardins do Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, com suas lindas palmeiras imperiais, seu céi azul e muito verde, além do laguinho.
Os jardins do Museu de Arte da Pampulha.

Belo Horizonte é uma cidade de fundação recente, do final do século XIX, que foi criada para ser a nova capital de Minas Gerais.

Pelo projeto original, a cidade ficaria contida nos limites da Avenida do Contorno, que margeia o que hoje é o centro e os bairros que o circundam. Dentro do perímetro da Avenida tudo era planejado e regular, com quarteirões de tamanho padrão, ruas se cruzando perpendicularmente e algumas avenidas cortando as vias em eixos diagonais.

Fora dali o que se via era o oposto. Como a cidade cresceu muito rapidamente, as áreas periféricas, que não receberam infraestrutura urbana, foram sendo ocupadas, derrubando a visão racional que se tinha da cidade em sua concepção.

No fim dos anos 30, ao ser nomeado prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek impõe em sua administração o perfil desenvolvimentista pelo qual sua futura presidência seria conhecida. Vários bairros para onde a cidade se expandia receberam a estrutura que necessitavam e foram integrados ao centro. Indo além, Juscelino decidiu desenvolver uma área ao norte da cidade, a Pampulha, onde uma lagoa artificial havia sido criada. Queria dar a Belo Horizonte o que ainda faltava à jovem capital: um centro de lazer e um grande atrativo turístico.

O Brasil moderno de Kubitschek e Niemeyer

Para dar volume ao que imaginava para a área, Juscelino contratou um promissor arquiteto, Oscar Niemeyer, e a ele encomendou o projeto de algumas edificações a serem erguidas às margens da lagoa da Pampulha. Foram construídos: uma igreja, um clube, um salão de bailes e um cassino.

O conjunto envolveu o pensamento modernista da época em todas as áreas abrangidas. Além da arquitetura de Niemeyer, os jardins das edificações foram concebidos por Burle Marx, os painéis por Cândido Portinari e as esculturas por Alfredo Ceschiatti, entre outros artistas.

O interior da igreja da Pampulha com painéis de Cândido Portinari em Belo Horizonte.
O interior da Igreja de São Francisco de Assis com painéis de Portinari
Os jardins da Casa do Baile, em Belo Horizonte, projetados por Burle Marx.
Os jardins da Casa do Baile projetados por Burle Marx.

No começo dos anos 40, enquanto o mundo se destruía na guerra, o Brasil fazia arquitetura.

Não por menos, assim que o Conjunto da Pampulha foi inaugurado, o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, dedicou um pavimento inteiro a uma exposição sobre a arquitetura brasileira.

Em um release enviado à impressa à época da inauguração da exposição, o Museu declarava que (em tradução livre minha):

“Nova-iorquinos terão a oportunidade de tomar conhecimento de alguns dos melhores exemplos de arquitetura moderna produzidos não só neste hemisfério, mas em todo o mundo”.

O catálogo da exposição “Brazil Builds” está disponível no site do MoMA em PDF.

O Conjunto Arquitetônico da Pampulha, Patrimônio Mundial da UNESCO

A Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, com a Igreja de São Francisco de Assis ao fundo. O céu está azul e ao fundo é possível ver muito verde.
A Lagoa da Pampulha com a igreja ao fundo.

Como definido pela UNESCO, integram o Conjunto arquitetônico da Pampulha: a Igreja de São Francisco de Assis, o Iate Tênis Clube, a Casa do Baile, o Cassino (hoje Museu de Arte da Pampulha), os jardins de cada obra, o calçadão que une uma edificação a outra, o espelho d’água e a orla da Lagoa no trecho onde estão as construções. No processo de reconhecimento, o grupo de avaliação ainda determinou que fossem restaurados os desenhos originais pensados para as praças Dino Barbiere (próxima à Igreja) e Dalva Simão (entre a Casa do Baile e a praça de Iemanjá), além da despoluição da Lagoa da Pampulha.

A Praça de Iemanjá na Lagoa da Pampula, com seu lindo portal com os símbolos dos orixás e a estátua de Iemanjá ao fundo. A lagoa se encontra ao fundo, o céu está azul com várias nuvens brancas.
A Praça de Iemanjá na Lagoa.

Esta extensa lista de elementos que compõem o que agora é patrimônio da humanidade reforça a ideia de que a Pampulha não é uma atração, mas uma experiência a ser vivida.

Como visitar o conjunto arquitetônico da Pampulha

As bicicletas do Itaú, disponíveis para alugar na Pampulha e perfeitas para conhecer o conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte.

Sabendo que o que existe na Pampulha não são edifícios isolados, mas um conjunto integrado à paisagem da lagoa, recomendo que se evite fazer a visita de carro ou de ônibus – existe uma linha circular na Pampulha e, nos fins de semana e feriados, um ônibus estilo jardineira que auxilia o deslocamento dos turistas – a não ser a quem tenha dificuldades de locomoção.

O ônibus retrô da Pampulha, em Belo Horizonte.
O ônibus retrô da Pampulha.

Da igrejinha até o Iate Clube são 20 minutos andando (1,7km). Dali até a Casa do Baile são só mais 7 (600 metros). Apenas o antigo Cassino fica mais afastado, a uma caminhada de pouco mais de meia hora partindo da Casa do Baile.

E com a orla sendo inteiramente plana, dá pra fazer todo o trajeto pedalando.

Numa manhã, seguimos a recomendação do Rafael, blogueiro do 360 Meridianos e morador de BH, e fomos, em companhia da Maíra, do Aos Viajantes, até a Pampulha, onde alugamos cada um uma bicicleta para passearmos pela orla da lagoa enquanto visitávamos as obras.

O sistema de aluguel de bicicletas é o do Mobilicidade, que existe em várias cidades do país e já tínhamos experimentado no Rio. Caso não conheça, o próprio Rafael já publicou um texto explicando como alugar bicicletas em Belo Horizonte.

O problema é que as bicicletas estão distribuídas pela Pampulha pensando em seu uso pelo morador de Belo Horizonte e não pelo turista que visita o conjunto arquitetônico. A maioria das estações está no trecho oeste da lagoa, próximas ao Parque Ecológico da Pampulha. A única opção ao turista é a estação “Pampulha”, que fica próxima à igrejinha, na Rua Versília, 50. Para chegar lá o interessado precisa atravessar uma ponte sobre o Córrego Tijuco, um valão de cheio insuportável – e de quebra entender porque a UNESCO exigiu a despoluição da lagoa em seu parecer.

As atrações do Conjunto arquitetônico da Pampulha

A Casa do Baile, parte do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, projetado por Oscar Niemeyer. Com suas curvas maravilhosas e seu lindo jardim, encanta a todos. O céu está azul e as nuvens brancas.

Da estação, basta contornar a lagoa em sentido anti-horário para visitar as atrações que compõem o conjunto arquitetônico da Pampulha. Pela ordem, visita-se:

Como opção, é possível, antes de iniciar as visitas ao conjunto, voltar um pouco, em sentido horário, e visitar a Casa Kubitschek, a antiga residência de Juscelino projetada por Niemeyer, hoje transformada em museu.

O 360 Meridianos tem um post explicando como é a visita ao museu da Casa Kubitschek.

No processo de reconhecimento a prefeitura tentou inserir a Casa Kubitschek na lista de obras do conjunto arquitetônico, mas a UNESCO solicitou sua retirada. Não encontrei o motivo oficial, mas pessoalmente consigo imaginar duas razões: primeiro, porque a casa era um imóvel privado e não fazia parte do conjunto de lazer pensado para a Pampulha, e também porque a edificação fica recolhida em uma colina, não tendo a mesma relação com a lagoa que as demais obras do conjunto.

A Igreja de São Francisco de Assis

A Igreja de São Francisco de Assis, ou igrejinha da Pampulha, como é popularmente conhecida, fica em Belo Horizonte e foi projetada por Oscar Niemeyer. A igreja possui um formato único e bastante peculiar, com um teto em formato de arco, toda azul claro, com alguns desenhos em sua lateral. Na frente uma cruz se encontra, e ao fundo, uma torre. O céu está azul com algumas nuvens brancas.

Notadamente a obra mais famosa do conjunto arquitetônico da Pampulha, a Igreja de São Francisco de Assis é a grande responsável pela vinda dos turistas à região.

Desde o momento em que foi erguida, a construção causou espanto na sociedade artística e religiosa da época. Mas em cada um destes círculos isso se deu em sentidos opostos.

Para os artistas de vanguarda, a igreja, com sua sequência de arcos, que ao mesmo tempo formam cobertura e paredes, era a subversão dos princípios da arquitetura modernista vigente, de forma até então inimaginável. Para as autoridades católicas, inimaginável era aceitar que uma igreja tivesse forma tão vanguardista.

A igreja da Pampulha com seus enormes painéis produzidos por Cândido Portinari. Todos em tons de azul e branco. Uma mulher vestida de vermelho se destaca na foto e está encostada no mural. O céu é azul com algumas nuvens.
A fachada de fundos da igreja da Pampulha, com os famosos painéis de Portinari.

Desse conflito de posicionamentos se seguiu uma situação no mínimo inusitada:

De um lado, após inaugurada, o arcebispo de Belo Horizonte, se recusou a consagrar a igreja e a manteve fechada por 15 anos (!), por não conseguir aceitar a forma que o edifício tinha.

De outro, os modernistas exaltavam a igrejinha como a obra-prima da Pampulha e, mesmo quando ainda fechado, em 1947, o edifício e suas obras de arte se tornaram o primeiro monumento moderno a receber tombamento nacional pelo IPHAN.

Imperdível.

O Iate Tênis Clube

O Iate Tênis Club, em Belo Horizonte, projetado por Oscar Niemeyer. Uma passarela de concreto vai até o topo, chegando em um prédio com enormes janelas de vidro que refletem o céu azul ao fundo, com algumas nuvens brancas.

O Iate Tênis Clube (originalmente Iate Golfe Clube) é o edifício que mais gera polêmica no processo de reconhecimento do conjunto arquitetônico da Pampulha como patrimônio mundial.

No formato de um barco que se lança às águas da lagoa, o edifício principal do clube, erguido sobre pilotis, segue a estética modernista e se destaca por seu telhado invertido, do tipo borboleta.

O Iate Tênis Clube visto a partir dos jardins do antigo Cassino, edifício mais polêmico no processo de reconhecimento do conjunto arquitetônico da Pampulha como patrimônio mundial da UNESCO
O edifício principal do Iate Clube conforme visto a partir dos jardins do atual Museu de Arte da Pampulha

A controvérsia, no entanto, atinge o prédio anexo, construído anos depois, que descaracteriza o projeto. A edificação anexa bloqueia a visão face a face que se tinha entre a Igreja e o Iate ao longo de todo o trecho da orla que une as duas edificações. Originalmente, a partir do Iate, era possível visualizar todos os demais prédios do conjunto.

Homem às margens da lagoa da Pampulha vendo ao fundo, a direita o prédio anexo do Iate Clube que bloqueia a vista da obra como projetada. A Prefeitura de Belo Horizonte pretende que o edifício seja desapropriado e demolido como forma de cumprir as exigências da UNESCO no processo de reconhecimento do conjunto arquitetônico da Pampulha como patrimônio mundial da humanidade.
Ao fundo, à direita, o prédio anexo do Iate Clube bloqueia a vista da obra de Niemeyer.

A Prefeitura de Belo Horizonte negocia a desapropriação e demolição do anexo para restaurar a ambientação original do conjunto.

Por ser um clube privado, muitos turistas excluem o prédio do roteiro de visitação na Pampulha, por ter o acesso restrito. Mas ao chegarmos lá, conseguimos conhecer o interior do edifício principal sem dificuldades, apenas registrando nossa entrada como visitantes. Não corte de seu roteiro, portanto.

A Casa do Baile

A Casa do Baile, em Belo Horizonte, prédio projetado por Oscar Niemeyer. Suas curvas são fascinantes, com sua marquise sustentada por várias colunas, seu jardim bem cuidado e verde, com uma calçada de pedrinhas laranjas. O céu é azul com algumas nuvens brancas e ao fundo palmeiras imperiais se sustentam.

A menor das edificações, mas talvez a mais encantadora delas, a Casa do Baile é a grande injustiçada pelos turistas que visitam a Pampulha pensando somente em conhecer a Igreja, sua obra mais famosa.

A construção fica localizada em uma ilha artificial às margens da lagoa e é ligada à orla só por uma ponte. Um salão circular forma o corpo principal do edifício, mas a ele se une uma marquise sinuosa, que contorna o perímetro da ilha, formando o grande destaque da obra.

E é isto a diferencia de todos os demais edifícios do conjunto. Sua marquise leva os visitantes para a parte externa, convidando-os a explorar os jardins e a observar os contrastes da arquitetura com a paisagem da lagoa.

Hoje no local funciona o Centro de Referência em Arquitetura, Urbanismo e Design, com algumas exposições ocorrendo em seu interior. A entrada é gratuita e fica aberta de terça a domingo. Porém, fomos numa segunda-feira, contrariando todas as recomendações, e apesar de estar fechada a exposição, pudemos acessar a ilha, caminhar pelo jardim e tirar a fotos maravilhosas que a Casa do Baile proporciona.

O antigo Cassino, atual Museu de Arte da Pampulha

O Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, prédio projetado por Oscar Niemeyer. Ao fundo o prédio de encontra no topo de uma colina, com um enorme gramado verde. Em primeiro plano, uma estátua. O céu está azul com várias nuvens brancas.

O Cassino era a grande atração do conjunto arquitetônico da Pampulha quando as obras foram inauguradas. Reinando do alto de uma península, na margem oposta às demais construções, era para o Cassino que todos os olhares ao redor se dirigiam, quando as festas aconteciam em seu interior.

O Cassino da Pampulha, atual Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, projetado por Oscar Niemeyer. Cheio de espelhos cor de ocre, de suas enormes janelas é possível ver o lindo jardim lá fora. Uma mulher de vermelho se destaca na foto.
O interior do cassino com sua enorme parede espelhada.

Arquitetonicamente o Cassino é a obra que mais facilmente se enquadra nos princípios clássicos do modernismo. Mas já ali Niemeyer demonstrava seu apreço pelas curvas ao articular o corpo principal, com projeção quase quadrada, com um volume cilíndrico, onde ocorriam as apresentações.

O salão cilíndrico do Cassino localizado no alto de um promontório às margens da lagoa da Pampulha.
O salão cilíndrico do antigo Cassino como visto a partir da Lagoa da Pampulha

Após o jogo ter sido proibido no Brasil, o Cassino permaneceu por anos fechado, até ser reaberto como um museu já nos anos 50. Hoje o espaço é focado na apresentação de obras de artistas brasileiros contemporâneos e fica aberto para visitação de terça a domingo.

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Sobre o Autor

Carlos Arruda

Carlos Arruda é um viajante desde muito jovem, impulsionado por sua vontade de conhecer locais distantes desde muito cedo, mesmo com recursos limitados. Essa característica o transformou em um habilidoso planejador de viagens.

Com uma visão analítica e uma paixão por decisões baseadas em dados, Carlos acredita que o segredo para uma viagem livre de contratempos está na precisão do planejamento. Seu objetivo é encontrar o equilíbrio perfeito entre a quantidade de dados e informações disponíveis e a emoção de uma experiência especial.

Sua formação em arquitetura e urbanismo confere uma vantagem distinta às narrativas que desenvolve. Atualmente, como escritor dedicado ao mundo das viagens, seus artigos não se limitam à mera observação das estruturas urbanas, destacando os detalhes e explorando as complexidades das diversas culturas ao redor do mundo. Seus textos inspiram e capacitam os leitores a planejar suas próprias jornadas com precisão e confiança.

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